domingo, 28 de novembro de 2010



GAZETA das CALDAS - Sexta feira, 1 de Outubro de 2010 - Pedro Antunes

Outubro de 1910
Bernardino Machado, Presidente da República por duas vezes, esteve nas Caldas da Rainha durante o dia 5 de Outubro, quando em Lisboa se travavam os últimos combates que levaram à implantação da República em 1910.

Foi o próprio quem contou a história à Gazeta das Caldas, numa entrevista a Luiz Teixeira em 1926.

"Sabe que nunca esquecerei que estive nas Caldas nos dias da revolução de 1910. Eu vinha de Lisboa e dirigia-me a Alfarelos, mas quando aqui cheguei o comboio não seguiu mais", contou.
Bernardino Machado esteve algumas horas no hotel e seguiu depois de automóvel para Lisboa. "Pelo caminho, cheio de satisfação, ouvia a gente do campo a gritar, acenando com lenços e chapéus, que a República havia triunfado em Lisboa", disse ainda.
O então Presidente da República contou que passou por Alenquer "onde houve quem mandasse colocar umas pedras como recordação da minha passagem por ali naquela data". Em 2010 foi inaugurado neste concelho um memorial a Bernardino Machado.

Luiz Teixeira afirmava convicto, em 1926, que as Caldas tinham sido o campo de manobras de Bernardino Machado para essa marcha sobre a capital. "Entusiasma-o a narração desses factos. O seu olhar tem o brilho extranho de quem recorda o passado glorioso", escreve ainda o colaborador da Gazeta.

Bernardino Machado contou também que tinha estado por diversas vezes na Foz do Arelho, em casa de Francisco Grandela. "Há até lá uma escola que ele mandou edificar e a que deu o meu nome", adiantou, referindo-se à escola primária que recentemente foi recuperada.

"Peço-lhe que por intermédio do seu jornal transmita ao povo das Caldas das minhas calorosas e sinceras saudações", terá afirmado Bernardino Machado para terminar a entrevista.

Em 1926 Luiz Teixeira foi das poucas pessoas a saber que o então Presidente da República fazia escala na estação das Caldas da Rainha num comboio especial que transportava Bernardino Machado de regresso de uma viagem ao Norte.

Nessa altura a linha do Oeste estava para a linha do Norte como está hoje a A8 para a A1 - era um percurso paralelo e alternativo nas ligações entre Lisboa e o Porto. Por isso era normal que o comboio presidencial regressado do Norte passasse pelas Caldas.

"Baixo, pêra e bigodes brancos, olhar acolhedor, sorriso sincero", descreveu o escritor.

A entrevista foi publicada em Fevereiro de 1916, meses antes de Bernardino Machado ser destituído pela revolução militar de 28 de Maio, que instituiu a ditadura militar e abriu caminho à instauração do Estado Novo.

Reconhecido republicano, Bernardino Machado já tinha sido eleito num primeiro mandato como Presidente da República, mas foi deposto na sequência do movimento comandado por Sidónio Pais. Expulso do país, regressa em força à actividade política pós a queda do sidonismo.

Caldas distinguida pela primeira República

Apesar do seu nome monárquico - referência explícita a uma rainha -, Caldas da Rainha foi uma das localidades portuguesas que a primeira República distinguiu pelo "heroísmo, civismo e amor que manifestaram em sustentar a integridade das instituições republicanas", quando estas "correram o perigo de ser subvertidas".

A agência Lusa destacou recentemente numa notícia que Alcobaça, Aveiro, Bragança, Caldas da Rainha, Chaves, Coimbra, Covilhã, Elvas, Évora, Lisboa, Mirandela, Ovar, Porto e Santarém (hoje, todas com o estatuto de cidade) são as localidades que, entre 1919 e 1930, foram agraciadas, por aqueles motivos, como sublinham os decretos, para o efeito, então publicados.

Às Caldas da Rainha, que era então uma vila, foi atribuído o grau Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Esta distinção tem a sua a sua origem histórica na Ordem da Torre e Espada, fundada por Afonso V, em 1459.

A distinção fez com que o galardão passasse a figurar como insígnia destes concelhos, excepto no caso das Caldas da Rainha. Aliás, o brasão caldense é um dos poucos no país que não tem o aval da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, porque é anterior à normalização da heráldica municipal levada a cabo no princípio do século XX.

2 comentários:

Amadeu Gonçalves disse...

"Tendo em atenção que a indústria das xanastras pode constituir um elemento importante de fomento da vida local nas Caldas da Rainha, onde a mesma indústria ganhou um cunho característico e bem conhecido; manda Sua Majestade El-Rei, pela secreataria de estado das obras públicas, comércio e indústria, que junto á escola industrial «Rainha D. Leonor» se crie uma oficina de canastreiros e que o seu funcionamento seja convenientemente regulamentado. / Paço, em 19 de Dezembro de 1893. Bernardino Luis Machado Guimarães."

Abraço fraternal.

Amadeu Gonçalves disse...

"xanastras" = "canastras"

renovo o abraço.